sexta-feira, 31 de julho de 2009

segunda-feira, 27 de julho de 2009













copiado do maravilhoso artigo de José Carlos Avellar "Toda a vida mais cem anos":

Fellini contou certa vez um sonho que julgava ter algo a ver com o sentimento impreciso de um filme que jamais chegou a se formar claramente em sua cabeça, mas que o perseguiu longo tempo como se fosse uma etapa necessária para a invenção de uma outra história, de um outro filme. Sonhou que era diretor do aeroporto. Sua mesa ficava num imenso salão vazio de onde se podia ver a pista iluminada através das paredes de vidro. Como chefe do aeroporto, ele se encarregava também da imigração: os vistos de entrada no país eram liberados por ele. Estava atendendo os passageiros quando notou no fundo do salão um chinês, sozinho, sem bagagem, com um quimono largo que lhe conferia um ar solene. Estava na fila e logo chegou à mesa, as mãos ocultas nas largas mangas do quimono, os olhos fechados. Sua figura pareceu a Fellini uma mistura de aristocrata e miserável. Os cabelos eram gordurosos e sujos, tinha um cheiro estranho, mas ao mesmo tempo um ar de nobreza. Poderia ser um rei, um santo, um cigano, um vagabundo. Parado, diante da mesa, não diz nada. Fellini se sente então pressionado por um sentimento de ânsia e inquietude. Sabe que o estrangeiro espera sua decisão, sabe que é ele que deve decidir se o chinês pode entrar ou não, que é ele que deve conceder ou negar o visto, mas não consegue decidir. Começa a balbuciar desculpas infantis e absurdas: diz que a decisão não depende dele, que está subordinado a gente mais importante, mais competente, e esta gente sim sabe o que fazer; diz que não é o verdadeiro diretor do aeroporto. E, como não sabe mais o que dizer para o chinês, que continua calado, um sentimento de vergonha o leva a baixar a cabeça. Percebe então que a placa sobre a mesa indica com clareza: Diretor. E a partir daí não ousa mais levantar a cabeça. Aflito, os olhos enterrados no chão, procura descobrir o que será pior: levantar a cabeça e descobrir que o chinês continua ali? Ou levantar a cabeça e não encontrar mais o misterioso estrangeiro vindo do oriente? Acorda em seguida com uma sensação desconfortável. O sonho, narrado num texto, foi anotado também num desenho: o salão amplo do aeroporto; o chão, a mesa do diretor e o banco onde alguns passageiros esperam sentados, são de cor alaranjada. Por trás dos vidros azulados vemos os aviões na pista. Os aviões e os passageiros são esboçados em traços ligeiros. O desenho, mesmo, é o chinês diante da mesa, figura dominante, no centro, grande, bem maior que o minúsculo diretor que vemos de costas numa cadeira pequenina engolida pela mesa grande. O chinês veste um quimono azul com enfeites cor de vinho. Sua cara amarela é marcada por poucos traços mas bem definida: rosto arredondado, olhos fechados, cavanhaque em torno da boca fina cabelos, cabelos caídos até os ombros. Num canto do desenho a assinatura de Fellini e uma anotação: Sonho de outubro 1961.

leia o texto na íntegra aqui!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sabe que ontem já rolou uma transfusão onírica?

Sonhei que estava no último banco de um avião com a Tita.
A gente balançava no ar como se as cadeiras fossem de um teleférico.
De repente, o piloto faz um pouso forçado de bico na terra.
A gente é arremessada para longe do avião e saímos ilesas.
Os outros passageiros se ferem mas ninguém morre exceto
o piloto, que supostamente embicou o avião para poupar a 
vida dos passageiros.


quarta-feira, 22 de julho de 2009



eu quero ir para o Rio, onde os peixes nadam
como os pássaros no ar. 
eu quero ir para o Rio, onde a água é o céu 
aberto dos peixes.

" Away, then, my dearest
Oh! Hie thee away.

To lone lake that smiles
In its dream of deep rest,
At many star-isles
That enjewel its breast."

E. A. Pole

STAR-ISLES
Ilha-estrelas
estrela-ilhas

pontos de junção de sonho, muda o registro, muda a matéria
água-céu
à água o sentido da mais longínqua pátria, de uma pátria celeste

quer ser pássaro ou peixe?



resposta ao relato de sonho 1

quero voar.
voar ao ar livre. 
voar sem nada conectando as peças. 
ainda assim, voar com tudo no lugar, 
os assentos enfileirados,
união mágica -- invisível física.
quero embarcar, a passagem tem outro nome.
a desordem, a espera, o destino imprevisto.
Brasília?
eu quero ir para o Rio, onde os peixes nadam
como os pássaros no ar. 
eu quero ir para o Rio, onde a água é o céu 
aberto dos peixes.
a carona de carro já caiu por terra.
só me resta voar com meus próprios olhos,
a parte serena e audaz do meu nome.

relato de sonho 1:

Encontrei-o no aeroporto de São Paulo. Ele tinha vindo num avião ao ar livre, com assentos flutuantes! Olhei para o céu e vi o avião sem casca: a cabine na frente, as asas dos lados, e os assentos enfileirados no ar, nada conectava eles. Mas ele disse que seu assento estava com problemas e parecia sempre ficar para trás ou cair de nível. Íamos voltar para casa, mas ele estava com medo de voar de novo. Eu estava super curiosa, animada com a idéia de voar ao ar livre. Estávamos muito atrasados, ele foi de carro e eu fui trocar a passagem para o meu nome e embarcar. Fiquei um tempo esperando na fila, tudo parecia muito desorganizado. Na minha vez, um garoto tentou furar, mas eu não deixei. Troquei a passagem para o meu nome, mas, depois que saí do guichê, percebi que o vôo era SP-Brasília, e não SP-Rio! Ia ter que falar com a atendente do guichê, entrar na fila de novo. O vôo já estava saindo e ele já tinha ido embora...
acordei.